sexta-feira, maio 26, 2006

Notas dos filmes lançados em abril de 2006

A Liga dos Blogues Cinematográficos do qual este blog faz parte atribui notas aos filmes lançados a cada mês. Neste ranking, votam todos os membros da Liga. Reproduzo minhas notas para os filmes que assisti:

Brasília 18%, Nelson Pereira dos Santos, Brasil - nota: 7 (É interessante o potencial de fuga do realismo num lugar que vemos todos os dias nos jornais. Mas parece que o filme morre na praia. É bom, mas não empolga.)

Bonecas russas, Cédric Klapisch, Fra/Ing - nota: 6,5 (História do carinha bonitinho que vai ficando com várias menininhas e vai crescendo com as perdas. Comédia romântica que te permite conhecer vários lugares da Europa.)

Irma Vap, Carla Camurati, Brasil - nota: 3 (Recomendo que assistam, mas pelo Marco Nanini em brilhante atuação. Não me responsabilizo pelo resto.)

A lula e a baleia, Noah Baumbach, EUA - nota: 9 (O mérito está no desafio de trabalhar com um tema clichê e fazer um filme muito interessante e inteligente.)

Árido Movie, Lírio Ferreira, Brasil - nota: 9 (É bom ver, ainda que isso seja raro no cinema brasileiro atual, a incursão num nordeste de choques e contrastes, realista e imaginário ao mesmo tempo, mas diferente.)

V DE VINGANÇA, de James McTeigue


Todas as vezes em que assisto a um filme "made in USA" que aponta para idéias revolucionárias fico pensando nos executivos da indústria cinematográfica de Hollywood receosos do efeito do filme no espectador: se ele vai suscitar o espírito inconformado que está adormecido ou se as coisas vão continuar como estão, ou seja, o espectador, anestesiado que está pelos discursos que defendem o sistema que rege a vida em sociedade, vai levantar da poltrona nos créditos finais e seguir para casa como se nada tivesse acontecido. Se se pensar positivamente, talvez o diretor e o roteirista tenham mesmo uma idéia de fazer as pessoas saírem do status quo. Mas Hollywood certamente não pensa assim. Hollywood é parte do que chamamos de cultura de massa e por isso tem a tarefa de englobar todo o tipo de discurso político, social ou cultural alternativos e torná-los mais uma arma de argumentação para a venda desenfreada de seu produto. Basta olhar para o punk chique ou para a cópia ad nauseam que fizeram da sociedade alternativa da década de 60. A crítica pesada a Hollywood não é de ordem puramente estética (apesar do excesso de blockbusters, a produção americana é muito boa, sim), mas política (o cinema americano é responsável pelo sufocamento paulatino da produção cinematográfica mundial ao longo de décadas). Hollywood, curiosamente, come poeira da Índia, a Bollywood, que produz mais de 800 filmes por ano e tem público médio de 2,8 bilhões de espectadores contra a média americana de 500 filmes anuais e 1,6 bilhões de espectadores, mas nem por isso deixa de ser a principal referência no imaginário cinematográfico da maioria.

Ok, ok. Eu paro de divagar, mas pensei em tudo isso depois de assistir à V de Vingança porque, a despeito de todas as infidelidades cometidas pelos roteiristas em relação à história original (os quadrinhos da DC Comics), como apontam os mais críticos, acho que a produção da Warner cumpre seu papel fazendo as pessoas discutirem, por exemplo, a pertinência de uma cena em que um trem recheado de dinamites explode o Big Ben (queria ver a cara do Tony Blair e da Rainha Elizabeth nessas horas). Através de um enredo que se volta a um passado de 400 anos, quando em 1605 o conspirador Guy Fawkes tentou explodir o parlamento inglês e destituir o rei James, e a um outro passado mais recente, quando V esteve encarcerado como vítima de experiências de médicos muito semelhantes aos do regime nazi-fascista, V de Vingança narra a história de seu personagem-título na tentativa de derrubar o governo totalitário que está tomando conta da vida da sociedade por meio de câmeras em todos os lugares (com o velho discurso da segurança pública) e controle absoluto da mídia (bem no nível de Mussolinis, Stalins e Berlusconis).

O ponto central da idéia de V para derrubar o poder do Estado e fundar a ideal sociedade anarquista reside em não mostrar seu rosto, sua identidade, mas passar às massas como uma idéia porque são estas que sobrevivem e não os homens. É esse argumento do homem cuja máscara reproduz a face de Guy Fawkes que proporcionará o final apoteótico do filme: a chegada dos mascarados ao Parlamento inglês. Por outro lado, fiquei me perguntando se a revolução agora tem que partir de cima já que as pessoas entraram num nível de consciência homogêneo e, sobretudo, bastante dirigido pelos governos e pelas mídias. Além disso, todo o trabalho feito por V para alcançar a população talvez não fosse possível sem uma grande movimentação financeira. Pergunta que vem à tona: "o poder emana mesmo do povo?".

Enfim, com toda a narrativa folhetinesca, citando, inclusive uma versão cinematográfica de "O Conde de Monte Cristo", um dos maiores folhetins de Alexandre Dumas, V de Vingança entra no gênero cinema-pipoca-que-faz-pensar.


V de Vingança (V for Vendetta), EUA / Alemanha, 2006, 132minDireção: James McTeigueRoteiro: Andy Wachowski, Larry WachowskiFotografia: Adrian BiddleEdição: Martin WalshDireção de arte: Marco Bittner RosserElenco: Natalie Portman, Hugo Weaving, Stephen Rea, Stephen Fry, John Hurt, Tim Pigott-Smith, Rupert Graves, Roger Allam, Ben Milles, Sinéad Cusack

terça-feira, maio 16, 2006

BOA NOITE E BOA SORTE, de George Clooney


George Clooney, sem precisar ofender diretamente George W. Bush e certos conglomerados da mídia norte-americana, bate com luva de pelica nas medidas políticas repressoras do atual presidente, resvalando por sua vez no tipo de jornalismo que vem sendo praticado desde o 11 de Setembro (para ficar no exemplo mais recente). Boa Noite e Boa Sorte, o mais recente filme de Clooney, começa pelo fim, com a premiação de Edward R. Murrow, apresentador do programa "See it Now", na CBS. A partir daí, praticamente toda a história se concentrará num bunker jornalístico, a sala das reuniões de pauta, onde a câmera flagra a tensão decorrente de um episódio no ano de 1953, quando um piloto é expulso da Força Aérea americana depois de seu pai ser acusado de supostamente estar lendo um jornal sérvio. Trata-se da caça aos comunistas, promovida pelo senador Joseph McCarthy (daí o termo macarthismo), então presidente do Comitê de Atividades Antiamericanas do Senado. As motivações prá lá de questionáveis do senador despertam o interesse do jornalista Edward Murrow e de sua equipe, que iniciam uma guerra de acusações contra as atitudes do senador depois que a CBS leva ao ar um programa inteiro de apontamentos dos abusos de Joseph McCarthy. Com a transmissão da réplica de McCarthy investindo contra Murrow (este dá uma tréplica brilhante ao senador), os ânimos se tornam mais inquietos a ponto de ser necessária uma manifestação discreta do presidente da CBS Frank Langella. E como infelizmente costuma acontecer na televisão popular, o "See it Now" é colocado em outro horário, fora da faixa de maior audiência, reservada agora para programas menos inteligentes e mais divertidos.


George Clooney está muito bem como o produtor Fred Friendly, mas sua maior atuação é mesmo como diretor já que realiza um filme muito bem resolvido em todos os aspectos. O status de ficção relatando o documental dá a Boa Noite e Boa Sorte abertura para trabalhar com uma fotografia em P&B que se confunde com as imagens reais captadas à época dos depoimentos de McCarthy (as imagens do senador são reais). O ambiente impregnado da fumaça dos cigarros, a sensação paradoxal de heroísmo e medo compartilhada entre os jornalistas, preocupados que estão com possíveis acusações de conspiração internacional, as piadas (um acusa o outro de amarelar e vem a resposta de que pior do que amarelar é ficar vermelho, em clara alusão ao comedores de criancinhas) e a negra cantando no bar, onde os jornalistas extravasam, uma música com o verso "a TV é que está com tudo" remetem a um imaginário conhecido como sendo a década de 50 nos EUA. Palmas para a atuação brilhante de David Strathairn, reforçada ainda mais pelos close-ups do personagem. Por fim, o grande trunfo de Clooney é não ceder à tentação de fazer um filme longo para englobar mais histórias e dar muitas explicações. O filme de Clooney é lacônico e contundente como a força do "Boa noite e boa sorte" pronunciado por Murrow ao fim de cada programa.



Boa Noite e Boa Sorte (Good night, and good luck), EUA, 2005, 93minDireção: George ClooneyRoteiro: George Clooney e Grant HeslovFotografia: Robert ElswitEdição: Stephen MirrioneDireção de arte: Christa MunroElenco: David Strathairn, Robert Downey Jr., Patricia Clarkson, Ray Wise, Frank Langella, Jeff Daniels, Peter Martin, George Clooney, Tate Donovan

sexta-feira, maio 05, 2006

Notas dos filmes lançados em março de 2006

A Liga dos Blogues Cinematográficos do qual este blog faz parte atribui notas aos filmes lançados a cada mês. Neste ranking, votam todos os membros da Liga. Reproduzo minhas notas para os filmes que assisti:

O plano perfeito, Spike Lee, EUA - nota: 7,5 (Falaram tanto do filme antes de eu assistir que fiquei com expectativas grandes demais. Resultado: não empolgou.)

Clube da Lua, Juan José Campanella, Argentina - nota: 8 (A crise financeira de um antigo clube prestes a ser vendido é o pano de fundo de um filme que fala sobre a resistência latino-americana para manter suas tradições e ter o direito de contar sua própria história.)