sexta-feira, abril 30, 2010
terça-feira, abril 21, 2009
W., de Oliver Stone, e a guerra de Bush
Em outro sentido, o que me incomodou no filme de Stone é que todo o traçado de W. já é conhecido de quem acompanhou as notícias no período posterior ao 11 de Setembro. Se tínhamos a mídia (a FOX, por exemplo) endossando as declarações desencontradas de Bush e seus secretários, a CIA e os demais órgãos que teimavam em acusar sem provas, por outro lado, um pouco mais tarde, a imprensa mundial voltou com peso para desmascarar ou evidenciar os reais motivos da guerra. Dentre os quais, as reservas de petróleo, no Oriente Médio, aclarando, inclusive, o inexplicável ataque a outras regiões, quando o motivo oficial e declarado era a busca de Osama Bin Laden. É claro que W. é agradável, porque precisamos expurgar a ferida, ainda mais em tempos de Oba(ma)-oba(ma), mas parece mesmo que chega atrasado.
Postado por Eduardo Miranda às 11:15 AM 2 comentários
quarta-feira, outubro 08, 2008
Festival do Rio 2008: Editando a guerra - De Palma e Errol Morris
Em Procedimento Operacional Padrão, Morris traz à tona as fotos de Abu Ghaib, num episódio que mobilizou a imprensa do mundo inteiro menos pelas atitudes asquerosas dos soldados americanos e mais pela espetacularização em torno das fotografias registradas pelos próprios soldados. De fato, o que fica evidente no filme (e isso já sabemos antes dele) é que uma guerra, por mais violenta que seja, só é uma guerra quando reverbera na sociedade civil fora dela. E as atitudes para frear uma guerra decorrem do que se conhece sobre ela. Esse infelizmente é o veredicto de boa parte da mídia. Só existe o que está nas TV’s, na internet, nos rádios e jornais. Por isso, o burburinho em torno das fotos de Abu Ghraib.
O que torna o filme interessante é não propriamente a narrativa encadeada dos acontecimentos (o que já acompanhamos pelos jornais), mas as perguntas que o diretor faz às verdades estabelecidas a partir das imagens. Às verdades: os soldados fotógrafos argumentam em favor da liberdade de expressão e dos benefícios que estas evidências trouxeram para que o governo pudesse rever alguns procedimentos. Ao que o filme leva: toda a falação dos personagens envolvidos, tanto dos que fotografaram quanto dos que atuaram nos abusos às vítimas, vira um amontoado de depoimentos sem utilidade (em alguns momentos, inclusive, a intervenção do diretor se faz pela ironia, colocando ao fundo uma melodia melodramática enquanto uma das militares dá sua versão dos fatos).
Morris desestabiliza a idéia de que o registro em si já constituiria uma denúncia e nos leva a crer na possibilidade de soldados ingênuos (idiotas) terem feito as imagens sem pensar na ampla divulgação que as mesmas poderiam ter. Trocando em miúdos: faziam fotografias para usufruto e risos privados e desconheciam as implicações que estas acarretariam. Quase todos foram presos (os fotógrafos – eram três câmeras – e os que participaram diretamente das torturas e humilhações). Quase todos do baixo escalão. O que não resolve o problema da guerra e de Abu Ghraib. Ao final, confrontado com as fotografias de torturados e de um cadáver (este último, com direito a uma soldado apontando para o corpo, munida de um largo sorriso), um dos militares responsáveis pelo caso vê a série de fotos enquanto repete palavras como “abuso”. Diante de uma das fotografias mais conhecidas do caso, a que um iraquiano com um capuz posiciona-se sobre uma caixa, quase desmaiando de sono depois de muitas horas sem dormir, água no chão, braços abertos com dois fios amarrados a cada um dos dedos indicadores, tendo sido devidamente informado que se caísse no chão, morreria eletrocutado, pois bem, diante desta fotografia, o referido oficial responde a Morris: Isto é um procedimento operacional padrão. Questão: qual foi o alcance das imagens divulgadas? Em que colaboraram?
Não obstante a força da estratégia de De Palma em simular diferentes vozes clamando por um mesmo desfecho, o que leva o filme adiante e o que faz com que este dialogue com o filme de Errol Morris é a denúncia pelas imagens. Também em Guerra Sem Cortes, um soldado que quer se tornar cineasta quando voltar ao seu país registra imagens inéditas do alojamento, da “verdade sobre a guerra”. Posteriormente, é o mesmo soldado quem registra o estupro. Como em Procedimento Operacional Padrão, o soldado conforma-se em só registrar e nada mais. Novamente, a pergunta se desloca do fato para a eficiência de registro desse fato. Haverá punição a partir das imagens? Só existe o que está registrado? Deixar de intervir para só registrar basta para o fim da guerra? Em Procedimento Operacional Padrão, uma das acusadas se defende chamando atenção para sua ínfima importância e argumentando que sua denúncia diante das autoridades militares e dos tribunais não teria efeito. Brian De Palma corrobora essa idéia, ao mostrar um soldado (o único que não teve parte no crime) diante de seus superiores tentando fazer a denúncia, mas sendo constantemente colocado como suspeito. Pelo que tudo indica, há punição. Só não se pode voltar atrás. De Palma, portanto, termina com imagens reais de vítimas do poder bélico americano, sob a legenda “efeito colateral”.
Postado por Eduardo Miranda às 1:27 PM 2 comentários
quinta-feira, outubro 02, 2008
Festival do Rio 2008: Mostra Gay: filme de gênero?
Em alusão a esse 'legado' que a liberdade sexual deixou, parece que na cultura, de um modo geral, o que ficou nesse início dos anos 90 (período de produção do filme) é a reciclagem do que já havia sido os anos 80. Assim, ver The Living End nos anos 2000 soa como o déjà vu do déjà vu. Em suma, um filme que dá voltas circulares e que nos seus 86 minutos cansa o espectador ao passo que seu modo de narrar deveria despertar sensação oposta.
Os filmes citados e os outros filmes da mostra gay ficam, assim, restritos a um público segmentado, já que, por observação empírica, 90% do público é gay. Se por um lado cria um ambiente propício inclusive a flertes e troca de olhares (sim, o cinema - o cinema, não o filme - é espaço de socialização, inclusive para flertes), esse tipo de mostra cria também um espaço de exclusão dos "não-gays" já que esses filmes deixam de ser contemplados por olhares variados.
Postado por Eduardo Miranda às 7:11 AM 2 comentários
terça-feira, setembro 30, 2008
sexta-feira, setembro 26, 2008
FESTIVAL DO RIO 2008
COMEÇOU O FESTIVAL DO RIO 2008, A MAIOR MOSTRA DE CINEMA DA AMÉRICA LATINA.
Em breve, textos sobre os filmes e o Festival.
Postado por Eduardo Miranda às 9:10 AM 0 comentários
segunda-feira, agosto 25, 2008
OLHAR ESTRANGEIRO: O RELEASE DE "SHOW DE BOLA"
"É claro que havia um problema de trabalhar com crianças da favela. Nunca tínhamos certeza se nossos atores principais compareceriam no dia seguinte para a filmagem. (...) Sempre tínhamos medo de que nossos atores principais entrassem numa briga de gangues e fossem mortos."
"Precisamos andar uma vez à noite ao longo da Av. Copacabana, caso queiramos ver qual o valor que tem o futebol no Brasil. Ali realmente cada centímetro quadrado está marcado para campos de futebol de praia. Milhares jogam futebol nesses lugares durante as 24 horas do dia. Em toda a parte. Na praia, nos fundos das casas, nas favelas. Ali, futebol é uma forma de ver o mundo"
"Muitas vezes éramos alvo de tiros. Uma vez fomos presos pela polícia militar e ameaçados pela máfia das drogas."
"Vimos tudo, até mesmo esquinas como a Villamimosa, que, como turista branco, realmente deveria ser evitada, se não quiser ser morto a tiros depois de 50 metros."
"Tínhamos ainda um outro contato com um expert, que atua como guia nas favelas e consegue extorquir muito dinheiro dos turistas."
"Na zona norte, um bairro onde fazem vodu, só nos foi pedido comprar um certo número de telhas, cimento e tábuas para que eles pudessem arranjar um pouco o seu negócio de vodu. Uma experiência bizarra."
"Pode acontecer de termos feito um acordo com um líder de uma favela, mas na semana combinada para a filmagem, este líder poderá não estar mais vivo. (...)Tudo é muito corrupto e arcaico nas favelas".
"Como pode ser visto muito bem no filme, vistas a distância, as favelas parecem colméias de abelhas. Em Cantagalo, uma das favelas, descobre-se, de muito longe, no meio desse favo cinzento, uma construção branca e muito alta, que se parece com aquilo que imaginamos ser uma vila de um barão das drogas da Colômbia."
"Um médico de Munique e meu amigo me contou que se parte de uma taxa de 100% de aidéticas entre as prostitutas."
"Não queríamos acreditar, mas no nosso giro noturno por uma zona rochosa, realmente vimos crianças das cavernas. Durante a noite, às 3 da manhã, vieram crianças de 7 anos de uma fdas cavernas, enroladas apenas em cobertas, pedindo-nos comida e capas de chuva e depois desapareceram novamente nas cavernas."
"Por sorte não existe cinema com estímulo olfativo. Em muitas favelas foi necessário juntar todas as forças para que a equipe toda não vomitasse sem parar. O mau cheiro era imenso."
"Deve-se entender que nas favelas a vida nem é tão ruim assim. Existe um senso comunitário bem forte e são as pessoas mesmas que se atendem. Criam um ou dois porcos em suas casa. Uma vez ao mês é carneado um porco, o que dá motivo para uma grande festa em toda a vizinhança."
"Estávamos absolutamente livres de preconceito e abertos para tudo o que podia ser visto e vivenciado"
Fonte: blog do Marcelo Janot
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quarta-feira, agosto 20, 2008
ERA UMA VEZ
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domingo, julho 27, 2008
MELHORES DO SEMESTRE
Segue minha lista, com destaque para A Questão Humana, filme quase metalingüístico tal o seu questionamento das verdades da palavra e da imagem. Nicolas Klotz compôs uma estética instigante, complexa e inteligente, cujo transbordamento imagético faz mergulhar no cinema político contemporâneo (nas questões atuais do capitalismo) e, ao mesmo tempo, dialoga de modo assustador com a história do século XX.
1 A QUESTÃO HUMANA Nicolas Klotz
2 SANGUE NEGRO Paul Thomas Anderson
3 NÃO ESTOU LÁ Todd Haynes
4 ZONA DO CRIME Rodrigo Plá
5 DESEJO E REPARAÇÃO Joe Wright
6 XXY Lucía Puenzo
7 O BANHEIRO DO PAPA César Charlone e Enrique Fernández
8 ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ Ethan Coen e Joel Coen
9 4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS Cristian Mungiu
10 PARANOID PARK Gus Van Sant
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quarta-feira, maio 14, 2008
sábado, fevereiro 23, 2008
And the Oscar goes to...
Juno foi anunciado como o Miss Sunshine 2008. Passa longe. Miss Sunshine, além de muito mais divertido, era menos pretensioso justamente porque falava de um simples concurso de beleza infantil e daí, a partir dos outros personagens, puxava paralelamente outras questões, como a dificuldade de encarar a derrota num país capitalista. Juno quis fazer tudo com a mesma simplicidade, mas com uma simplicidade pretensiosa, cool. Seus ares de filme moderninho e pouco afeito à discussão o tornaram superficial. Tratou a gravidez da personagem com distância e não conseguiu fugir dos clichês, nos diálogos e nas situações. Ellen Page não se livrou do seu gorro vermelho usado no fiasco Menina Má.com, apesar de sua atuação crescer bastante ao longo do filme. Juno não é desprezível, mas também não merece o Oscar de melhor filme.
Conduta de Risco
Michael Clayton, título original, tem tudo para ganhar o Oscar de melhor filme. Roteirista da trilogia Bourne, o diretor estreante Tony Gilroy já havia mostrado que sabe conciliar filme de ação com diálogos inteligentes. Conduta de Risco tem, portanto, um ponto forte para a indicação de melhor filme: um excelente roteiro. Não bastando isso, Gilroy tem uma direção surpreendente para um estreante. George Clooney e Tom Wilkinson estão perfeitos em suas atuações. Clooney é o produtor-executivo e mostrou mais uma vez maturidade na escolha de bons filmes. Apoiado numa fotografia de sombras e luzes frias, Conduta de Risco tem a trilha sonora composta por James Newton Howard, o mesmo de Colateral (2004), e, de fato, tem muitos momentos que remetem ao filme de Michael Mann. Talvez o que afaste Conduta de Risco do prêmio seja o distanciamento da narrativa e o tema, bastante comum, ainda que o grande desafio e o mérito do filme seja narrar o mais do mesmo com tamanha sofisticação.
Desejo e Reparação
Diferente de Orgulho e Preconceito, em que havia uma distância muito grande entre os sentimentos dos personagens e o sentimento espectatorial (no meu caso), e a trama, apesar de bela, soava fria e incoerente com o tema, em Desejo e Reparação, baseado no romance Reparação, de Ian McEwan, Joe Wright investe mais na personalidade de seus personagens. O roteiro adaptado por Christopher Hampton é um dos pontos mais elogiados (quando assisti ao filme, saí dali direto para a livraria a fim de encontrar o romance) e a grande virada no final da trama é surpreendente. O destaque é, também, para o uso da trilha sonora, sempre se confundindo com os sons diegéticos na primeira parte do filme. Atonement, no original, é um dos filmes que mais me cativou. E, tentando adivinhar o resultado da premiação, acho que é esse o filme a levar o Oscar.
Onde os Fracos Não Têm Vez
Se levarem em conta a eficiência dos diálogos e o uso do silêncio, o filme dos irmãos Coen será o dono da estatueta dourada. De fato, a economia dos diálogos e o momento em que eles surgem, quase sempre cortantes, estão em pleno acordo com a composição da paisagem de No Country For Old Men, título original. Fica muito claro o status de personagem central que o deserto assume e o modo como ele é importante para definir os rumos de seus habitantes, tanto no amargo fim do velho xerife local Ed Tom Bell (interpretado por Tommy Lee Jones) como na maldade monossilábica do assassino serial Anton Chigurh (Javier Bardem, provável vencedor do Oscar de ator coadjuvante). Entre muitas outras qualidades, merece destaque o roteiro, as atuações do elenco, a fotografia, os silêncios (não há trilha musical) e a edição que, junto com roteiro e atuação, trabalham com os sustos e a imprevisibilidade da narrativa. Apesar da minha aposta em Desejo e Reparação, o que se diz é que os irmãos Coen levam o Oscar de melhor filme em decorrência dos prêmios que o filme vem acumulando.
Sangue Negro
Negro como o petróleo e duro como as pedras que ele escava é Daniel Plainview, o personagem de Daniel Day-Lewis. Produto do meio, assim como os personagens do deserto, no filme dos irmãos Coen, Plainview tem sua trajetória revista (o roteiro é uma adaptação do livro Oil!, de Upton Sinclair) por Paul Thomas Anderson, no melhor filme entre os indicados. Meu Oscar, sem titubear, iria para Sangue Negro. Pelo roteiro, pela direção impecável de P.T. Anderson, pelas atuações de Day-Lewis (é impressionante observar o ator em close entre caretas, falas raivosas e irônicas e pausas dramáticas) e de Paul Dano, o pastor Eli Sunday, que merecia uma indicação como ator coadjuvante, pela fotografia, em que a luz solar refletida na paisagem contrasta com a sombra dos homens do petróleo em trabalho, pela trilha sonora constantemente perturbadora de Jonny Greenwood (guitarrista e multi-instrumentalista do Radiohead) e pela narrativa que Anderson imprime ao filme. É o melhor entre os cinco e vai entrar para a lista de clássicos do cinema.
Postado por Eduardo Miranda às 1:19 PM 4 comentários
quinta-feira, outubro 25, 2007
FECHANDO A TAMPA - FESTIVAL DO RIO 2007
AS TESTEMUNHAS *** (ver post)
MISTER LONELY *** (ver post)
EU NAO QUERO DORMIR SOZINHO ***** (ver post)
HOMENS NUS *** (ver post)
PIAF – HINO AO AMOR *** (ver post)
A FELICIDADE DOS SAKAI **** (ver post)
SEM FÔLEGO ****
RITA CADILLAC – A LADY DO POVO ***
ILUMINADOS ****
DESEJO E REPARAÇÃO ***** (ver post)
4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS **** (ver post)
SNOW WHITE THE SEQUEL *
FILM NOIR **
NA ESTRADA COM O AMANTE DA MINHA MULHER
FRAULEIN
Curtas
LÊDA DE ARTE LEDA
MUITO PANO PRA POUCA MANGA
ELKE
HOMEM-LIVRO
MARIA LENK PIXINGUINHA
A MALDITA
Por falta de tempo, não deu para comentar todos os filmes a que assisti no Festival do Rio 2007 (ver filmes comentados em posts anteriores). Eis a lista de tudo o que consegui ver.
COTAÇÃO
Postado por Eduardo Miranda às 10:18 PM 6 comentários
terça-feira, outubro 02, 2007
FESTIVAL DO RIO 2007 (4)
Depois de sair da sessão de Eu Não Quero Dormir Sozinho pensei imediatamente em O Rio, outro filme de Tsai Ming-Liang, justamente porque os dois filmes têm em comum uma abordagem do precário. Em Eu Não Quero Dormir Sozinho Hsiao-kang é atacado na rua e logo depois é encontrado caído por um grupo de homens que o levam para um cortiço. Lá, um dos homens do grupo, Rawang, cuida de Hsiao enquanto este se recupera. Rawang passa a sentir uma afeição maior por Hsiao e este sente-se atraído pela garçonete Chyi na medida em que vai se recuperando. Os planos, estáticos e de longa duração, tornam-se quase independentes uns dos outros por comportarem cenas inteiras num único enquadramento – principalmente no período de convalescença de Hsiao. Em outros momentos, a câmera procura um ângulo estrategicamente mais enviesado para permanecer fixa e captar o que acontece na cena. Num plano, o colchão, que foi importante em toda a trama, agora flutua num lugar tomado pela água (mais um ponto em comum com O Rio) e, apesar da doença, da fumaça e da água que impedem o fluxo de vida, ele entra serenamente em quadro para mostrar uma das imagens mais belas do cinema. Tsai Ming-Liang sabota a trama em prol das sensações. (Dir: Tsai Ming-Liang, Taiwan/França/Áustria, 2006)
O novo filme de Gus Van Sant pode até não ser dos melhores (dos mais recentes, gosto muito mais do Elefante e do Last Days), mas não se pode deixar de reconhecer que o diretor vem trabalhando coerentemente nos últimos filmes. Gus Van Sant tem colaborado para a criação de uma estética contemporânea da juventude americana bastante associada à idéia, senão do pessimismo, ao menos da melancolia (É esse um dos eixos temáticos de Elefante, Last Days, Garotos de Programa). Tudo parece letárgico em Paranoid Park: o tempo dilatado (a câmera lenta é usada dentro de um propósito bastante pertinente), a fotografia suja e escura e uma nostalgia/ironia em desterritorializar as músicas de Nino Rota feitas para filmes do Fellini. O crime em Paranoid Park não é punido física e institucionalmente. Como em Elefante, aqui também o personagem se chama Alex (a-lex = sem lei). Está aí o pessimismo com os projetos coletivos, com o futuro. Isso não significa que Gus Van Sant faça um julgamento moral dos fatos na trama. Pelo contrário, é uma constatação totalmente amoral. A punição do personagem consiste numa branda autopunição. Exorcizar a culpa é escrever sobre ela. E fica por isso mesmo. Paranoid Park é o parque dos skatistas, lugar isolado onde adolescentes voam em seus skates, acima da terra, acima das leis. (Dir: Gus Van Sant, Estados Unidos/França, 2007)
Postado por Eduardo Miranda às 9:58 PM 3 comentários
segunda-feira, outubro 01, 2007
FESTIVAL DO RIO 2007 (3)
Quase tão impossível quanto limitar Bob Dylan no gênero folk é dizer que esse filme é uma mera biografia. Pode até ser uma biografia (por isso o “quase tão impossível” lá no início), mas o caleidoscópio de Todd Haynes é tão diversificado e rico quanto a carreira de Bob Dylan. Bob Dylan não está lá, não é um. Bob Dylan é muitos. Por isso, em I’m Not There Bob Dylan é Cate Blanchett, Heath Ledger, Richard Gere, Christian Bale, Ben Wishaw e Marcus Carl Franklin. A música de Dylan passa por uma série de gêneros e temáticas (folk, rock, religião, política, ainda que a palavra política suscite uma série de questionamentos por Dylan em I’m Not There) assim como sua personalidade de poeta, maldito, surrealista, caubói, branco e negro. Conforme o filme avança, vamos tendo progressivamente não um contorno preciso, mas ainda mais difuso de personagem controverso que não se deixa apreender. Para o pessoal que gosta de Oscar: eu daria a I’m Not There, pelo menos, uma indicação de melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro, melhor edição, melhor direção de arte, melhor trilha sonora, melhor figurino, melhor fotografia e melhor atriz para Cate Blanchett. Devo ter esquecido de mais alguma coisa que esse filme tem de bom. (Dir: Todd Haynes, Estados Unidos, 2007)
Postado por Eduardo Miranda às 9:27 PM 0 comentários
DUAS OU TRÊS COISAS SOBRE O FESTIVAL DO RIO
Na sessão inaugural do filme Piaf – Um Hino ao Amor, no Cine Palácio, o público batia palmas clamando pelo início da sessão, que já passava dos 30 minutos de atraso. Era o tempo para a entrada de toda a comitiva francesa que vinha para ver Piaf nas telas. Nem Ilda Santiago, organizadora do Festival, escapou da chuva de vaias quando subiu ao palco para apresentar o filme. Viva Piaf!
Salve o Cinema!
Primeiras poltronas (ou a turma do gargarejo)
Postado por Eduardo Miranda às 9:17 PM 0 comentários