terça-feira, abril 21, 2009

W., de Oliver Stone, e a guerra de Bush


Dois fatos me fazem remoer o já antigo post anterior deste blog, que tratou de dois filmes cujas abordagens focam a guerra de George W. Bush. O primeiro deles: o novo filme de Oliver Stone, W., sobre o já citado presidente norte-americano. Stone mostra ao espectador a trajetória do júnior, rebelde e mimado durante a juventude, apesar da austeridade do Bush pai. O que se disse por aí, na recepção do filme, foi que Stone nao conseguiu se colocar em um ou outro lado. Discordo. Nao acho que Stone tenha ficado em cima do muro, sua ironia é fina e, no mais, quem precisa criticar com sarcasmo pesado um presidente auto-sabotador? É só colocar as trapalhadas de Bush que a piada está feita, tal como ríamos das aparições do presidente russo Boris Yeltsin, invariavelmente bêbado em seus discursos. Enfim, piadas prontas.

Em outro sentido, o que me incomodou no filme de Stone é que todo o traçado de W. já é conhecido de quem acompanhou as notícias no período posterior ao 11 de Setembro. Se tínhamos a mídia (a FOX, por exemplo) endossando as declarações desencontradas de Bush e seus secretários, a CIA e os demais órgãos que teimavam em acusar sem provas, por outro lado, um pouco mais tarde, a imprensa mundial voltou com peso para desmascarar ou evidenciar os reais motivos da guerra. Dentre os quais, as reservas de petróleo, no Oriente Médio, aclarando, inclusive, o inexplicável ataque a outras regiões, quando o motivo oficial e declarado era a busca de Osama Bin Laden. É claro que W. é agradável, porque precisamos expurgar a ferida, ainda mais em tempos de Oba(ma)-oba(ma), mas parece mesmo que chega atrasado.

Em comparação a W., me parece que A morte de George W. Bush (Inglaterra, 2007), de Gabriel Range, é mais inventivo no que se refere a abordagem criativa da realidade, ao forjar o assassinato do presidente (embora não tenha assistido ao filme e não possa dizer se a realização é bem-sucedida, a premissa é bem interessante). Que fique claro: não estou sendo estúpido em dizer que filmes com personagens históricos devem ser feitos no calor da hora, do fato. Leituras, a posteriori, de fatos históricos é o que mais há, e com excelentes exemplos. Só tenho mesmo a impressão de que W. teria forte impacto em 2006 ou 2007, embora eu esteja injustamente desconsiderando questões relacionadas à logística e à produção do filme que o impossibilitariam de ser lançado antes no circuito.

Por outro lado, o segundo ponto que me faz retomar o post anterior, diz respeito à música ‘A Base de Guantánamo’, no novo disco de Caetano Veloso, Zii e Zie. Digo ‘por outro lado’ porque o ‘problema’ de obra que vem um pouco atrasada, caso de W., apareceu também numa entrevista coletiva dada por Caetano. Na matéria da Folha Online, o repórter Luiz Fernando Vianna afirma que a música “se arrisca à caduquice”, visto que Obama já começou o desmonte da base, em Cuba. Caetano responde: "A minha indignação não envelheceu, não pode nunca envelhecer. A canção não é uma notícia de jornal. Mas fico muito feliz de que, sob outro ponto de vista, ela fique, sim, obsoleta", afirma.

Caetano tem razão: tanto melhor que neste caso sua música fique obsoleta mesmo, assim como W., de Oliver Stone, nos apareça confortavelmente no passado. Porém, não se pode negar o impacto de Caminho para Guantánamo, de Michael Winterbottom, lançado em 2006, período em que mais se discutiam as censuras e as represálias impostas pelos Estados Unidos. Se há a clara prevalência de W. para não deixar esquecer um presidente que em muito contribuiu para a situação atual do mundo, por outro lado, filmes que aparecem na retaguarda dos acontecimentos poderiam ir além do espelho da realidade, buscando maior reflexão sobre o tema abordado, como faz Procedimento Operacional Padrão e Guerra sem cortes (ver post anterior). Ou, se feito no calor da hora, apresentar crítica mais contundente, como faz Caminho para Guantánamo. Afinal, nada contra os manifestos na arte. Só a favor. Eles são velhos conhecidos.