quinta-feira, outubro 25, 2007

FECHANDO A TAMPA - FESTIVAL DO RIO 2007

LUST, CAUTION, Ang Lee *****
FOR YOUR CONSIDERATION * (ver post)
AS TESTEMUNHAS *** (ver post)
MISTER LONELY *** (ver post)
EU NAO QUERO DORMIR SOZINHO ***** (ver post)
HOMENS NUS *** (ver post)
PIAF – HINO AO AMOR *** (ver post)
A FELICIDADE DOS SAKAI **** (ver post)
SEM FÔLEGO ****


ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO, Sidney Lumet ****
ELVIS PELVIS ** (ver post)
XXY ***** (ver post)
SINDROMES E UM SÉCULO **** (ver post)
AS BONECAS SAFADAS DA DASEPO ** (ver post)
SOMBRAS ELÉTRICAS *** (ver post)
O JOVEM WIM WENDERS **
O BANHEIRO DO PAPA **** (ver post)
SOMBRAS DE GOYA *** (ver post)


NÃO TOQUE NO MACHADO, Jacques Rivette ****
I’M NOT THERE ***** (ver post)
BÚFALO DA NOITE ***
MULHER NA PRAIA ***** (ver post)
PARANOID PARK **** (ver post)
FLORESTA DOS LAMENTOS
ENTREVISTA
A CADA UM SEU CINEMA
O AMOR EM TEMPOS DE CÓLERA **

LIKE A VIRGIN, Lee Hae-Young e Lee Hae-Jun ****
RITA CADILLAC – A LADY DO POVO ***
ILUMINADOS ****
DESEJO E REPARAÇÃO ***** (ver post)
4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS **** (ver post)
SNOW WHITE THE SEQUEL *
FILM NOIR **
NA ESTRADA COM O AMANTE DA MINHA MULHER
FRAULEIN


Curtas
LÊDA DE ARTE LEDA
MUITO PANO PRA POUCA MANGA
ELKE
HOMEM-LIVRO
MARIA LENK PIXINGUINHA
A MALDITA


Por falta de tempo, não deu para comentar todos os filmes a que assisti no Festival do Rio 2007 (ver filmes comentados em posts anteriores). Eis a lista de tudo o que consegui ver.

COTAÇÃO
***** irretocável
**** muito bom
*** bom
** razoável
* ruim

Agora é aguardar o Festival do Rio 2008!

terça-feira, outubro 02, 2007

FESTIVAL DO RIO 2007 (4)

EU NÃO QUERO DORMIR SOZINHO *****
Depois de sair da sessão de Eu Não Quero Dormir Sozinho pensei imediatamente em O Rio, outro filme de Tsai Ming-Liang, justamente porque os dois filmes têm em comum uma abordagem do precário. Em Eu Não Quero Dormir Sozinho Hsiao-kang é atacado na rua e logo depois é encontrado caído por um grupo de homens que o levam para um cortiço. Lá, um dos homens do grupo, Rawang, cuida de Hsiao enquanto este se recupera. Rawang passa a sentir uma afeição maior por Hsiao e este sente-se atraído pela garçonete Chyi na medida em que vai se recuperando. Os planos, estáticos e de longa duração, tornam-se quase independentes uns dos outros por comportarem cenas inteiras num único enquadramento – principalmente no período de convalescença de Hsiao. Em outros momentos, a câmera procura um ângulo estrategicamente mais enviesado para permanecer fixa e captar o que acontece na cena. Num plano, o colchão, que foi importante em toda a trama, agora flutua num lugar tomado pela água (mais um ponto em comum com O Rio) e, apesar da doença, da fumaça e da água que impedem o fluxo de vida, ele entra serenamente em quadro para mostrar uma das imagens mais belas do cinema. Tsai Ming-Liang sabota a trama em prol das sensações. (Dir: Tsai Ming-Liang, Taiwan/França/Áustria, 2006)



SOMBRAS DE GOYA ***
A proposta de Sombras de Goya é bastante interessante no que se refere ao título do filme. As sombras são dadas a três níveis de leitura. O primeiro, pelas sombras pintadas por Goya, no filme. O segundo, pelo contexto sombrio daquela época, quando a Espanha estava sendo tomada pelas invasões francesas de Napoleão, e, num terceiro nível, o termo sombras permite uma leitura referente à fotografia e à luz na tela de cinema. Neste último, Carlos Saura talvez tenha traduzido melhor as sombras em seu Goya, ao fazer alusão direta às telas do pintor. Um outro problema que vejo no filme de Milos Forman, com roteiro de Jean-Claude Carrière, é não trabalhar no meio termo, ou seja, tendendo demasiadamente para o lado de um cinemão comercial: estilo narrativo clássico, atores internacionais (Javier Bardem e Natalie Portman) e língua inglesa num filme que se passa na Espanha. Ou seja, sem fazer concessão ao que poderia vir a ser um filme mais sofisticado. A questão da língua talvez fosse mais aceitável se Milos Forman fosse inglês ou norte-americano, por exemplo. Mas não o é. Tudo bem, a produção é norte-americana, mas isso não alivia os ouvidos de quem vê cenas da Espanha e ouve o idioma inglês, com a péssima idéia de colocar uma ou outra palavra em espanhol entre as falas em inglês. O desfecho, afinal, aparece como uma redenção para um filme tão cheio de climas e efeitos. (Dir: Milos Forman, Estados Unidos/Espanha, 2006)





PARANOID PARK ****
O novo filme de Gus Van Sant pode até não ser dos melhores (dos mais recentes, gosto muito mais do Elefante e do Last Days), mas não se pode deixar de reconhecer que o diretor vem trabalhando coerentemente nos últimos filmes. Gus Van Sant tem colaborado para a criação de uma estética contemporânea da juventude americana bastante associada à idéia, senão do pessimismo, ao menos da melancolia (É esse um dos eixos temáticos de Elefante, Last Days, Garotos de Programa). Tudo parece letárgico em Paranoid Park: o tempo dilatado (a câmera lenta é usada dentro de um propósito bastante pertinente), a fotografia suja e escura e uma nostalgia/ironia em desterritorializar as músicas de Nino Rota feitas para filmes do Fellini. O crime em Paranoid Park não é punido física e institucionalmente. Como em Elefante, aqui também o personagem se chama Alex (a-lex = sem lei). Está aí o pessimismo com os projetos coletivos, com o futuro. Isso não significa que Gus Van Sant faça um julgamento moral dos fatos na trama. Pelo contrário, é uma constatação totalmente amoral. A punição do personagem consiste numa branda autopunição. Exorcizar a culpa é escrever sobre ela. E fica por isso mesmo. Paranoid Park é o parque dos skatistas, lugar isolado onde adolescentes voam em seus skates, acima da terra, acima das leis. (Dir: Gus Van Sant, Estados Unidos/França, 2007)




4 MESES, 3 SEMANAS E 2 DIAS ****
Pessimista em relação à situação da Romênia nos últimos suspiros sob o regime comunista de Nicolau Ceaucescu, Cristian Mungiu fez um filme cru e desprovido de sentimentos, com a exceção do medo e do ceticismo. Otilia precisa ajudar Gabriela, sua amiga de quarto numa república de universitários, a encontrar um médico num hotel para fazer um aborto, prática ilegal na Romênia de 1987. Quando Dr. Bebe descobre que Gabriela está com cinco meses de gravidez, e não dois como ela dissera, o médico quer aumentar o valor cobrado. Otilia precisa convencer o médico a fazer o aborto, mesmo não tendo o dinheiro para pagá-lo. Otilia faz uma incursão na escuridão da noite sem luzes, percorrendo as ruas a fim de encontrar um lugar para jogar fora o feto. Nos poucos momentos em que se vê outras pessoas, a relação gira sempre em torno da troca e do comércio de mercadorias e produtos ilegais no país. É o paralelo que se faz com os personagens (o médico, Otilia e Gabriela) na margem da sociedade. É a sensação que se tem ao ver Otilia num jantar, diante dos pais e os amigos dos pais do namorado, a falarem com certo desdém de pessoas menos instruídas ou que vêm do interior para a cidade. O deslocamento e o abismo entre Otilia e as pessoas à mesa é traduzido num plano estático e bastante longo em que Otilia fixa o olhar num ponto fora do quadro ao mesmo tempo em que os outros dão risadas e se divertem a seu redor. É no plano final também que o olhar de Otilia, diante da amiga Gabriela, parece apontar para algo fora do quadro, um ponto de fuga, tentativa de fuga, talvez. 4 meses, 3 semanas e 2 dias e A Criança, dos irmãos Dardenne, parecem ter mais em comum do que apenas a Palma de Ouro. (Dir: Cristian Mungiu, Romênia, 2007)




DESEJO E REPARAÇÃO *****
Diferente de Orgulho e Preconceito, em que havia uma distância muito grande entre os sentimentos dos personagens e o sentimento espectatorial (no meu caso), e a trama, apesar de bela, soava fria, em Desejo e Reparação, baseado no livro Reparação, de Ian McEwan, Joe Wright investe mais na personalidade de seus personagens. Keira McNight, atriz que interpretava uma personagem pálida no filme anterior, tem neste último filme uma tinta bem mais passional. Em 1935, Cecilia Tallis, jovem rica, apaixona-se pelo caseiro Robbie. A relação é interrompida quando Briony, irmã mais nova de Cecilia e escritora promissora, acusa injustamente Robbie de ter cometido um estupro na família. A separação vem com a prisão de Robbie e sua ida para a guerra. Mais tarde, Robbie e Cecilia se encontram para reatar o relacionamento. Briony, agora enfermeira na guerra, quer reparar o mal que fez a Cecilia e Robbie. Escritora conhecida, o modo que Briony encontra para desfazer seu erro é mudar na ficção o que já é imutável na vida. Destaque para o roteiro de Christopher Hampton e para o uso da trilha sonora, sempre se confundindo com os sons diegéticos na primeira parte do filme. (Dir: Joe Wright, Reino Unido, 2007)




O BANHEIRO DO PAPA ****
Mais do que um filme uruguaio, existe em O Banheiro do Papa um espírito latino-americano, presente também em filmes como Diários de Motocicleta, que fala de uma América pobre e ainda esperançosa com o que vem do centro do mundo. Mais particularmente, há em O Banheiro do Papa um resquício de cristianismo católico que une apesar das adversidades. Por outro lado, é uma América que se constrói na precariedade e na impossibilidade de se igualar aos países ricos. Beto tem a fé, mas sobrevive com a família às custas do contrabando que faz entre Brasil e Uruguai sobre a bicicleta. É a bicicleta que resgata a América rural, campestre, e que permite compor as mais belas imagens do filme, como as corridas entre Beto e seu amigo, tendo ao fundo a paisagem matinal, orvalhada e iluminada pelo sol. É a fé cega que os diretores Enrique Fernandez e César Charlone vão sabotar. Em 1988, a cidade de Melo, na fronteira entre Brasil e Uruguai, vive a expectativa de uma visita do Papa João Paulo II. As famílias de Melo vêem na visita a oportunidade para ganhar algum dinheiro com os milhares de visitantes que são esperados. O Papa é, então, o próprio milagre. Beto, abrindo mão dos projetos de estudo da filha, constrói um banheiro na calçada de casa para uso dos visitantes. O resultado frustrante mostra uma das facetas falidas do catolicismo. (Dir: Enrique Fernandez e César Charlone, Uruguai/Brasil, 2007)

segunda-feira, outubro 01, 2007

FESTIVAL DO RIO 2007 (3)

I’M NOT THERE *****
Quase tão impossível quanto limitar Bob Dylan no gênero folk é dizer que esse filme é uma mera biografia. Pode até ser uma biografia (por isso o “quase tão impossível” lá no início), mas o caleidoscópio de Todd Haynes é tão diversificado e rico quanto a carreira de Bob Dylan. Bob Dylan não está lá, não é um. Bob Dylan é muitos. Por isso, em I’m Not There Bob Dylan é Cate Blanchett, Heath Ledger, Richard Gere, Christian Bale, Ben Wishaw e Marcus Carl Franklin. A música de Dylan passa por uma série de gêneros e temáticas (folk, rock, religião, política, ainda que a palavra política suscite uma série de questionamentos por Dylan em I’m Not There) assim como sua personalidade de poeta, maldito, surrealista, caubói, branco e negro. Conforme o filme avança, vamos tendo progressivamente não um contorno preciso, mas ainda mais difuso de personagem controverso que não se deixa apreender. Para o pessoal que gosta de Oscar: eu daria a I’m Not There, pelo menos, uma indicação de melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro, melhor edição, melhor direção de arte, melhor trilha sonora, melhor figurino, melhor fotografia e melhor atriz para Cate Blanchett. Devo ter esquecido de mais alguma coisa que esse filme tem de bom. (Dir: Todd Haynes, Estados Unidos, 2007)




PIAF – UM HINO AO AMOR ***
Tenho a impressão de que os franceses estão aprendendo a fazer biografias de seus mitos com o cinema americano. Piaf – Um Hino ao Amor deixou quase todo o cinema aos prantos (incluso eu). Parece que a velha fórmula de contar a história de uma vida em narrativa cronológica foi para o espaço. Piaf – Um Hino ao Amor começa na velhice precoce de Edith e logo mergulha no seu nascimento. A partir daí a sensação de linearidade é logo abalada pelo quebra-cabeças que é tentar descobrir o que é antes e o que é depois nos momentos em que a idade de Piaf é muito próxima nas duas cenas que se misturam. De todo modo, o narrar em Piaf é bem mais comportado do que no I’m Not There de Todd Haynes. Colabora para isso o fato de Edith Piaf já estar morta e Dylan, vivo. Não significa, entretanto, obra fechada, mas mais compreensível, se quisermos “enquadrar” Piaf numa história de vida. Mas isso é besteira porque a voz do Pequeno Pardal, apelido de início de carreira, e o mito dessa diva da música francesa sobrevivem. Ah, Marion Cotillard é a atriz que provavelmente vai tirar o Oscar das mãos de Cate Blanchett. Aos 33 anos, a atriz interpreta Piaf da juventude até a morte. Não haveria maquiagem que desse jeito não fosse o talento impressionante de Cotillard. Apesar da vida errante no prostíbulo, no circo e nos bares, Edith Piaf não se arrependeu de nada. É por isso que encerra cantando: “Non, rien de rien, non, je ne regrette rien” (não, nada de nada, não me arrependo de nada). (Dir: Olivier Dahan, França, Reino Unido, República Tcheca, 2007)

AS TESTEMUNHAS ***

O novo filme de Andre Techiné, apesar de datar de 2007, tem sua trama passada nos anos 1983-84. E não alertar para isso no início do filme torna o soco no estômago ainda mais forte. Manu, o jovem que ainda não chegou aos 20 anos de idade, chega a Paris para tentar a vida, dividindo um pequeno quarto de hotel com a irmã. Num parque de encontros entre homossexuais, Manu conhece o médico Adrien, 50 anos, que logo se apaixona pelo rapaz, mas não é correspondido. Adrien leva Manu a casa de uma amiga, a escritora Sarah e seu marido Mehdi. Mais tarde, Manu se distancia de Adrien e começa um relacionamento às escondidas com Mehdi, policial que reprime gays e prostitutas nos guetos da periferia parisiense. O soco no estômago se refere às feridas que começam a aparecer no corpo de Manu. A mesma que as prostitutas e os gays, mas não só, começam a apresentar em todo o mundo. Alguns meses depois, surge o nome da doença: Aids. O encanto do filme se esvai com a despedida de Manu da vida. Techiné assume um tom de filme policial e de denúncia que destoa da beleza poética de Manu. Com a morte do jovem, os personagens se tornam errantes na trama e o filme parece perder o objetivo, ainda que o objetivo maior seja o livro que Sarah está escrevendo sobre Manu. (Dir: Andre Techiné, França, 2007)




XXY *****
Ricardo Darín tem sido onipresente no Festival do Rio. Além de marcar presença em três filmes, dirigindo um deles, também é um dos convidados do festival. Em XXY, entretanto, o destaque é para a atriz Inés Efron, que interpreta Alex, a hermafrodita que é o centro da trama. Há de ressaltar o talento da diretora Lucía Puenzo em seu primeiro longa. XXY aborda a questão de um modo bastante delicado e poético, se opondo a um discurso racional e científico. Alex é livre para escolher se quer ou não fazer a cirurgia de retirada do pênis. Ao mesmo tempo é vista como um ser exótico por algumas pessoas que a cercam na pequena comunidade de pescadores. Inés Efron protagoniza uma cena belíssima, difícil de ser executada e muito bem dirigida, a que transa com o filho do cirurgião plástico que está hospedado na casa de seus pais. Contraponto aos pais de Alex, o cirurgião tem dificuldade em aceitar o filho por vê-lo como um fracassado, ainda que o menino seja um pré-adolescente. A fotografia esverdeada se harmoniza com o cenário marítimo e com os olhos verdes e selvagens de Alex. XXY fala da delicada e tênue fronteira entre os gêneros sexuais e sobre o respeito dos pais na decisão dos filhos. (Dir: Lucía Puenzo, Angentina, Espanha, França, 2007)

DUAS OU TRÊS COISAS SOBRE O FESTIVAL DO RIO

A massa clama por Piaf
Na sessão inaugural do filme Piaf – Um Hino ao Amor, no Cine Palácio, o público batia palmas clamando pelo início da sessão, que já passava dos 30 minutos de atraso. Era o tempo para a entrada de toda a comitiva francesa que vinha para ver Piaf nas telas. Nem Ilda Santiago, organizadora do Festival, escapou da chuva de vaias quando subiu ao palco para apresentar o filme. Viva Piaf!

Salve o Cinema!
Na sessão de Mulher na Praia, no Espaço de Cinema, não havia mais lugares para os cinéfilos credenciados que entram depois do público pagante. Eis que se dá, então, o seguinte diálogo entre o bilheteiro e um crítico credenciado:
- Meu senhor, não custa nada liberar. A garotada aqui querendo assistir ao filme e o senhor barrando.
- O senhor é cinéfilo há muitos anos, sabe muito bem que não posso liberar a entrada se não há mais lugares.
- Tudo bem, o senhor me deixa entrar para ver se não há mais lugares. Se não houver, eu saio e encerramos a discussão. Ele entra e volta: - Têm, no mínimo, nove lugares! E nós somos seis! O bilheteiro, sem argumentos, libera a entrada e entramos.

Primeiras poltronas (ou a turma do gargarejo)
Ao contrário das sessões de circuito, no Festival as primeiras poltronas têm sido ocupadas na mesma proporção que as do fundo da sala. Acabei pegando um pouco a mania de assistir aos filmes quase colado à tela.

Festival do Rio 2007 (2)

MULHER NA PRAIA *****
Em Mulher na Praia, Jongraee, um diretor de cinema, convida seu assistente e a namorada deste para passarem uns dias na praia a fim de terminar um roteiro de um filme. O diretor Hong Sang-soo traça com frieza e humor um início de triângulo amoroso entre os três personagens. Posteriormente, com a saída do assistente na trama, vamos percebendo as intenções de Jongraee: reescrever sua personagem no roteiro. E para isso, disseca os sentimentos da mulher para depois passar a outra. É um olhar um tanto amargo para as situações porque Hong Sang-soo parece pouco interferir a não ser constatar a confusão mental de Jongraee, mas, por outro lado, Mulher na Praia diverte o público pelo humor quase ácido das relações amorosas. Justamente por ter uma narrativa pouco afeita a grandes acontecimentos, e se aproximar muita mais da crônica desimportante, a despretensiosidade do filme é o que o torna grande. O estilo de Mulher na Praia lembra muito os filmes da nouvelle vague. (Dir: Hong Sang-soo, Coréia do Sul, 2006)



A FELICIDADE DOS SAKAI ****
A Felicidade dos Sakai, filme único do diretor japonês Mipa Oh, com roteiro premiado no Sundance 2006, é a história de uma família de classe média japonesa onde somente os pequenos conflitos do filho pré-adolescente e as brigas sem importância dos pais quebram a rotina dos Sakai. Entretanto, a ruptura da paz vem com o anúncio do pai da família ao assumir sua homossexualidade e sair de casa. Mais tarde, ficamos sabendo que o pai, na verdade, tem uma doença e inventou um relacionamento com outro homem para se distanciar da família e evitar o sofrimento desta. A Felicidade dos Sakai é bastante econômico na trilha sonora e nos movimentos de câmera. Só pra usar um clichê perfeitamente adequado para o filme, aqui o menos é mais. Muito mais. (Dir: Mipa Oh, Japão, 2006)




SOMBRAS ELÉTRICAS ***
Comecei a desconfiar de Sombras Elétricas logo no início da projeção. Depois de um acidente em que Mao Dabing cai de bicicleta e derruba uma parede de tijolos num beco, uma moça lhe acerta uma tijolada e ambos vão parar no hospital. Ele pelo acidente e ela pelos problemas psiquiátricos que sofre. Mao Dabing vai à casa da moça para alimentar os peixes a pedido dela. Lá, ao ler seu diário, entra no passado pelo flashback, aliás, 90% do filme é um flashback. Foi aí que a luz alerta piscou: tratava-se de um filme com a gramática de Hollywood. Flashback, câmera lenta nos momentos mais emocionantes, música crescendo à medida em que algo estava para acontecer e uma série de recursos para não deixar ninguém com os olhos secos. Realmente não deu para resistir. É um filme muito bonito porque trata da paixão da menina pelo cinema durante a infância, mostrando uma China comunista romântica, e do reencontro depois de tantos anos com o amigo Mao e com os pais. (Dir: Xiao Jiang, China, 2004)





SÍNDROMES E UM SÉCULO ****
Filmar quase em tom de crônica a rotina de um hospital é um modo de simples de falar do filme do tailandês Apichatpong Weerasethakul. Na verdade, o que se investiga neste filme é menos as ações em si que os intervalos entre as ações. É mais o modo como se dá que o fato. É até por isso que mais adiante, na segunda metade do filme, revemos cenas parecidas filmadas por outro ponto de vista, quase sempre o oposto. Síndromes e um Século também passa do hospital ao ambiente natural, ao verde, quase sem dar a perceber. Faz isso de modo tão hipnótico que apenas dá a imagem e o som como contemplação. Seja a do hospital, a das árvores e do lago ou a imagem e o som de um show do dentista que canta nas horas vagas. É quase impossível falar do filme pensando em narrativa, já que a experiência sensorial é quase um abismo para o espectador se perder nos planos e entre eles. (Dir: Apichatpong Weerasethakul, Tailândia, França, Áustria, 2006)




AS BONECAS SAFADAS DE DASEPO **
Filme baseado nos quadrinhos da Dasepo, As Bonecas Safadas de Dasepo é uma paródia extremamente sexualizada do americano High School Music. Toda a trama gira em torno das conquistas amorosas dos adolescentes. Anormais são os adolescentes que não transaram com os professores, por exemplo. Não há nenhuma pornografia no filme, mas muitas piadas da cintura para baixo. O imperdível são os números musicais e as cores usadas nos cenários e nas roupas dos personagens. São lindos os adolescentes coreanos e seu comportamento frenético de fotografar com o celular tudo que vêem. O colorido é a tônica das bonecas e dos bonecos safados da escola Dasepo. (Dir: Lee Jae-Yong, Coréia do Sul, 2006)