domingo, janeiro 14, 2007

CASA DE AREIA, de Andrucha Waddington


O acaso faz com que a vida, de vez em quando, nos enrede num sem número de coincidências que chego a pensar se sou mesmo senhor do meu destino. É interessante quando leituras e filmes convergem e acabam por se transformar numa idéia fixa. Digo isso porque revi Casa de Areia, dessa vez no DVD. E ontem, antes de seguir para a mostra de filmes Luz em Movimento, na Caixa Cultural, eu assistia ao making of do filme de Andrucha Waddington. O fotógrafo do filme diz que optou por descolorir o céu azul, dar um tom acinzentado e melancólico. E a mostra da Caixa privilegia os filmes que utilizam a luz tropical, esta que caracteriza parte da produção cinematográfica brasileira. Casa de Areia, portanto, segue no caminho inverso, assim como Cinema, Aspirinas e Urubus recupera a luz estourada.

E sei que escrevo pouco neste blog. Não escrevo sobre metade dos filmes que vejo. E aí surgiu uma outra coincidência numa confortante afirmação do Wim Wenders sobre a crítica de cinema: "A opinião não me interessa. Gostaria de saber mais coisas, que alguém me transmitisse a experiência que teve com um filme, sobretudo se foi uma boa experiência. Eu tinha uma regra própria: só escrevia sobre os filmes dos quais havia gostado. Hoje, tenho a impressão de que a maior parte da crítica faz o contrário. Os críticos só escrevem sobre os filmes que detestaram." (entrevista dada ao jornalista Fernando Eichenberg, no livro Entreaspas). Não sei se posso ser chamado de crítico de cinema, mas é essa a minha vontade: falar da minha experiência com os filmes. Às vezes acho que consigo fazer isso. E, em resposta a um amigo que dissera que sempre falo bem dos filmes, na verdade, falo dos filmes que gosto. Raramente falo dos que não gosto. Li essa declaração do Wim Wenders perto de assistir a este filme que gostei tanto.

Se falei pouco de Casa de Areia, foi porque falei sobre o gosto por Casa de Areia. Considero um trabalho primoroso os planos longos e abertos, as interpretações das Fernandas, a forma como se trabalha a passagem do tempo e a metáfora do solo lunar. E se Casa de Areia foge de um cinema praticado sob a luz tropical nos anos 50 e 60, por outro ele retoma Deus e o Diabo na Terra do Sol, mas para mostrar que, ao contrário do filme de Glauber, aqui o mar não é mais a tangente por onde se escapa. O mar em Casa de Areia é o limite, é a impossibilidade de se apresentar como saída.


Casa de Areia, Brasil, 2005, 116min Direção: Andrucha Waddington Roteiro: Elena Soárez Fotografia: Ricardo Della Rosa Edição: Sergio Mekler Elenco: Fernanda Montenegro, Fernanda Torres, Seu Jorge, Luiz Melodia, Ruy Guerra, Enrique Diaz, Estênio Garcia, Emiliano Queiroz, João Acaiabe, Camila Facundes

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