George Clooney, sem precisar ofender diretamente George W. Bush e certos conglomerados da mídia norte-americana, bate com luva de pelica nas medidas políticas repressoras do atual presidente, resvalando por sua vez no tipo de jornalismo que vem sendo praticado desde o 11 de Setembro (para ficar no exemplo mais recente). Boa Noite e Boa Sorte, o mais recente filme de Clooney, começa pelo fim, com a premiação de Edward R. Murrow, apresentador do programa "See it Now", na CBS. A partir daí, praticamente toda a história se concentrará num bunker jornalístico, a sala das reuniões de pauta, onde a câmera flagra a tensão decorrente de um episódio no ano de 1953, quando um piloto é expulso da Força Aérea americana depois de seu pai ser acusado de supostamente estar lendo um jornal sérvio. Trata-se da caça aos comunistas, promovida pelo senador Joseph McCarthy (daí o termo macarthismo), então presidente do Comitê de Atividades Antiamericanas do Senado. As motivações prá lá de questionáveis do senador despertam o interesse do jornalista Edward Murrow e de sua equipe, que iniciam uma guerra de acusações contra as atitudes do senador depois que a CBS leva ao ar um programa inteiro de apontamentos dos abusos de Joseph McCarthy. Com a transmissão da réplica de McCarthy investindo contra Murrow (este dá uma tréplica brilhante ao senador), os ânimos se tornam mais inquietos a ponto de ser necessária uma manifestação discreta do presidente da CBS Frank Langella. E como infelizmente costuma acontecer na televisão popular, o "See it Now" é colocado em outro horário, fora da faixa de maior audiência, reservada agora para programas menos inteligentes e mais divertidos.
George Clooney está muito bem como o produtor Fred Friendly, mas sua maior atuação é mesmo como diretor já que realiza um filme muito bem resolvido em todos os aspectos. O status de ficção relatando o documental dá a Boa Noite e Boa Sorte abertura para trabalhar com uma fotografia em P&B que se confunde com as imagens reais captadas à época dos depoimentos de McCarthy (as imagens do senador são reais). O ambiente impregnado da fumaça dos cigarros, a sensação paradoxal de heroísmo e medo compartilhada entre os jornalistas, preocupados que estão com possíveis acusações de conspiração internacional, as piadas (um acusa o outro de amarelar e vem a resposta de que pior do que amarelar é ficar vermelho, em clara alusão ao comedores de criancinhas) e a negra cantando no bar, onde os jornalistas extravasam, uma música com o verso "a TV é que está com tudo" remetem a um imaginário conhecido como sendo a década de 50 nos EUA. Palmas para a atuação brilhante de David Strathairn, reforçada ainda mais pelos close-ups do personagem. Por fim, o grande trunfo de Clooney é não ceder à tentação de fazer um filme longo para englobar mais histórias e dar muitas explicações. O filme de Clooney é lacônico e contundente como a força do "Boa noite e boa sorte" pronunciado por Murrow ao fim de cada programa.
Boa Noite e Boa Sorte (Good night, and good luck), EUA, 2005, 93minDireção: George ClooneyRoteiro: George Clooney e Grant HeslovFotografia: Robert ElswitEdição: Stephen MirrioneDireção de arte: Christa MunroElenco: David Strathairn, Robert Downey Jr., Patricia Clarkson, Ray Wise, Frank Langella, Jeff Daniels, Peter Martin, George Clooney, Tate Donovan
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