No Festival do Rio, o cine Palácio ficou encarregado de boa parte da Mostra Midnight Movies, uma seleção de filmes que têm como temática a interessante e curiosa bizarrice humana. Maníacos, extravagantes e tudo o mais se encontram naquela sala. Na tela e nas poltronas. Como não sou exceção, em plena tarde de sábado, eu entrava no cinema para assistir talvez ao maior clássico do cinema pornô: Garganta Profunda, estrelando Linda Lovelace como Linda Lovelace, assim aparecia nos créditos iniciais. Antes disso, porém, começou a ser exibido um documentário que ninguém sabia dizer a procedência. Conferi o bilhete para ver se não havia comprado, por engano, a sessão Entrando na Garganta Profunda, um documentário sobre o impacto cultural do filme, na década de 70, nos EUA. Não. No meu ingresso e no de todos estava lá aquele título instigante e, imediatamente, entendido com certo ar de riso (para quem nunca ouvira falar do filme): Garganta Profunda. O público não queria documentário coisíssima nenhuma. Queria sim ver o sexo na tela grande. Fetiche, fazer o quê. As luzes então se acendem, entra uma mulher da organização do festival tentando esclarecer que o que estamos vendo é um curta-metragem a respeito do filme e que o dito cujo viria em seguida. Lá atrás, ninguém ouve nada do que ela diz até que um sujeito grita: "Fala mais alto pra eu ver se eu ouvo (seu ovo)!". Piadinha pertinente para o filme que se esperava e não seria necessário dizer que o cinema veio abaixo. A mulher, irritada, foi para o fundo do cinema e explicou tudo de novo: Ahhhh, bom! Agora sim, Linda Lovelace como Linda Lovelace entra em ação. E ela é ela mesma porque o diretor explicou, no documentário que quase foi espinafrado pelos pornófilos da sala, que a garganta profunda é fato. Experiência própria, segundo ele. No filme, a habilidade da mocinha vai sendo provada e aprovada por um sem número de homens, mas só é legitimada depois de o Dr. Young, um médico safadinho, descobrir que Linda não sente prazer durante o sexo vaginal porque seu clitóris está na garganta. Por conta disso, Linda procura um homem que tenha um dote de 20 centímetros, de modo que alcance o tal ponto de prazer e deixe a mulher a soltar foguetes e ver os sinos baterem, como ela própria afirma querer. Enquanto ela não encontra o bem-dotado, o Dr. Young faz a festa dele e a dos outros, contratando Linda como terapeuta para atender em domicílio aos marmanjos que estão dodói. Nas horas vagas, ela satisfaz o patrão que, enquanto faz saliência, registra os diversos casos de cura de seus pacientes decorridas do fenômeno da garganta profunda. A trilha sonora é um primor: músicas, ohh, tão românticas! Uma delas repete o tempo todo "deep throat, deep throat..." num coro tão singelo que dá até vontade de chorar (com duplo sentido, por favor)! Brincadeiras à parte, Garganta Profunda é um clássico do cinema pornô e é pena que hoje não se contem histórias interessantes nos filmes do gênero. Além de ter sido mais relegada do que já era, a produção desse tipo de filme vai desaparecendo dos cinemas. Pra confirmar a fama de cinema-inferninho que o Palácio tem, numa das cenas mais quentes, entra uma negona-grandona-fortona para verificar se tem alguém muito empolgado na poltrona fazendo coisa indevida, sozinho/a ou acompanhado/a. Vai ver alguém anda querendo bater o recorde da Lovelace, que morreu em 2002 e precisa ser substituída. Quem se habilita?
Garganta Profunda (Deep Throat), 1972, EUA, 73 min
Direção e Roteiro: Gerard Damiano
Elenco: Linda Lovelace, Harry Reems, Dolly Sharp, Bill Harrison
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