quinta-feira, setembro 21, 2006

DÁLIA NEGRA, de Brian De Palma


No cinema, a narrativa em flashback é a mais utilizada quando se quer remeter ao passado, sem estar exatamente no passado. Ainda não inventaram ou não popularizaram um formato diferente. O excesso de flashbacks pode destruir um bom filme (uma observação é que, por analogia, na vida real, voltar ao passado, remoer acontecimentos também pode ser destrutivo para quem o faz). A despeito dessa possibilidade, com toda a quantidade de flashbacks de Dália Negra, este novo filme de Brian De Palma passa ao largo do medíocre. E qual seria a saída para contar uma história passada na década de 40 senão trabalhar com a estética fílmica de 40? Isso não é nenhuma novidade. Também não é novidade a narrativa clássica que Brian De Palma dá ao filme. É também assim que se conta uma história nos tempos áureos da Hollywood. Não há, portanto, na direção de Dália Negra um cineasta inventor, mas um cineasta mestre, para ficar nas divisões propostas pelo crítico José Lino Grunewald. Ao mostrar o seu potencial para fazer um revival dos filmes noir, Brian De Palma mostra que aprendeu bem a lição com os inventores.
Como em Os Intocáveis, estão lá os móveis e as paredes em madeira e o facho de luz diurna que penetra o departamento de polícia. De filme noir, talvez o mais marcante seja a forma como os personagens são explorados. A persona do policial, que por si só já é um elemento constante do noir, está aqui encarnada na dupla Bucky Bleichert (Josh Hartnett) e Lee Blanchard (Aaron Eckhart). No passado, ambos lutaram como boxeadores (The Ice e The Fire, respectivamente). Agora, uma luta entre os dois para promover reivindicações da corporação policial faz brotar uma relação de amizade, além da parceria de profissão. Assim, Bucky é trazido para a casa de Blanchard e apresentado à sua mulher, a sensual Kay Lake (Scarlett Johansson), personagem que está no limiar entre a femme fatale e a mocinha salva pelo herói. Está formado um triângulo amoroso em potencial que resiste à explosão. Femme fatale mesmo é Madeleine Linscott (Hilary Swank), personagem-chave para o desencadeamento da trama.
Ter como cenário a Hollywood é ponto de partida para a metalinguagem: 1) procura-se o autor do brutal assassinato da atriz Elizabeth Short, a Dália Negra. 2) O roteiro, baseado no romance homônimo de James Ellroy (mesmo autor de Los Angeles - Cidade Proibida) vai mais fundo nas referências, associando o filme O Homem que Ri (1927) às pistas para a descoberta do assassino (curiosidade: o ator de O Homem que Ri, filme de Paul Leni, é Conrad Veidt, o sonâmbulo de O Gabinete do Dr. Caligari). 3) a cena final de Ramona Linscott (Fiona Shaw) é uma clara alusão à cena final de Norma Desmond, a diva de Crepúsculo dos Deuses, quando surge no patamar superior da escadaria. Ambas reivindicam a exclusividade das luzes da ribalta. E por último, uma excelente frase (mais compreensível no contexto do filme) pronunciada por um personagem diante do corpo da Dália: "Hollywood usa você quando mais ninguém usa".

Dália Negra (Black Dahlia) EUA, 2006, 121 min
Direção: Brian De Palma
Roteiro: Josh Friedman, baseado no romance homônimo de James Ellroy
Fotografia: Vilmos Zsigmond
Direção de arte: Pier-Luigi Basile / Christopher Tandon
Edição: Bill Pankow
Elenco: Josh Hartnett, Scarlett Johansson, Aaron Eckhart, Hilary Swank, Mia Kirshner, Mike Starr, Fiona Shaw, Patrick Fischler

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