segunda-feira, dezembro 05, 2005

PLANO DE VÔO, de ROBERT SCHWENTKE



Um convite para assistir a um filme-pipoca em pleno dois de dezembro, feriado dos mortos, num tempo enlouquecido feito esse que cariocas já estamos nos acostumando soa para mim como programa de índio, intriga internacional ou, em alguns casos, como ofensa pessoal, mas não é este o caso. Não sei se por preconceito ou por ter sido apresentado ao mundo inteligente fora de Hollywood (venhamos e convenhamos que até mesmo os fãs da indústria cinematográfica americana sempre sabem o final do filme assim que vêem o cartaz na porta do cinema). Mas meus amigos não conspiravam contra mim. Conspiração mesmo foi a vivida por Jodie Foster. Com vocês, no telão: Plano de vôo. Ah, mas antes disso, é claro, tenho que falar do que vem antes, obviamente. E o que vem antes num cinema pipoca??? Ganha uma pipoca quem adivinhar... Uma enxurrada de traillers, é claro. Uns cinco costuma ser a média. Precisam ser impactantes pra fazer com que as pessoas esqueçam da comida e do refrigerante. E precisa ter corte ágil, som alto, frases de efeito entre as cenas e muita adrenalina, mas muita mesmo, a ponto de eu achar que posso ter um ataque cardíaco a qualquer momento tamanho é o exagero. Depois disso, ninguém dorme. Pelo contrário, quando vem o silêncio, a trilha sonora, digamos... hmm... diegética, aquela que não é do filme, mas das poltronas, se manifesta com maior intensidade: mãos nervosas não se intimidam no embate com os sacos de pipoca. Agora sim, o filme. É como eu disse, todo mundo sabe o final. O que interessa é saber como Jodie Foster se sai em uma hora e cinqüenta minutos. E se sai bem. É legal ver que a atriz envelheceu. E convence como a mãe que tem a filha seqüestrada num avião com 400 passageiros que segue de Berlim para Nova York e leva, entre outras coisas, o corpo do marido, que caiu do telhado num acidente. É claro que no primeiro susto, quando a menina some antes do embarque, no saguão do aeroporto, sabemos que não é daquela vez, que a intenção é colocar os espectadores em alerta, tanto é que a música cresce em dramaticidade. Esse é mais um chavão do cinema comercial americano. Mas o roteiro desenvolve bem a trama: no jogo de empurra para definir quem é o seqüestrador, a paranóia americana pós-11 de setembro mira o alvo no primeiro árabe que encontra no avião. Felizmente, para se livrar do tom preconceituoso e da obviedade, a resposta não é essa. Depois tem se a sensação de que há um plano que envolve mais pessoas. Cresce também a possibilidade de que Kyle (Jodie Foster) esteja sofrendo alucinações. O avião, que já era um tanto claustrofóbico, vira um pandemônio quando Kyle decide revirar tudo e todos para encontrar a filha. A despeito da trama interessante, o final é previsível. Mesmo assim, saio pensando que não é tão fácil resistir a um filme do esquemão. Viva o filme pipoca, viva o filme cult, viva a diversidade! O que não dá é sair do cinema e encontrar a mesma chuva de quando entrei. O centro consegue ficar ainda mais vazio do que já é em feriados e domingos e eu tenho que me arriscar na arte de andar pelas ruas do Rio de Janeiro pulando poças, fugindo de goteiras e cuidando para não dar de frente com suspeitos. Tudo pelo cinema, seja ele qual for.

Plano de vôo (Flightplan), 2005, EUA, 110 min
Direção: Robert Schwentke
Elenco: Jodie Foster, Peter Sarsgaard, Sean Bean, Marlene Lawston, Erika Christensen, Kate Beahan

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